sábado, 14 de abril de 2012

Alucinação

Sinto o vermute escorregar-me na garganta e encontrar um estômago vazio. Sinto-me tonta... vacilante...
Quero dominar o tempo. Quero albergar o mundo. Quero viver sem amanhã. Quero experimentar a loucura. Quero não querer saber. 
Olho pela varanda e o chão parece tão longe e o céu parece tão perto. 
Abandono o corpo e transformo-me: hoje sou poderosa, hoje sou dona de mim. 
Visto a nudez com que nasci e deslizo num movimento felino pelos espaços escondidos do vosso olhar. Sou uma sombra, um sopro, uma miragem. 
Não estou aqui mas todos me conhecem das fantasias que desde sempre tiveram.
Sou aquela que todos desejam. Sou a morte e a vida. Sou a inocência e a sensualidade. 
Sou feita da mesma matéria da fantasia, da mesma inexistência dos sonhos. 
Sou como o álcool: volátil mas consequente. 

Cinza

O mundo está quieto e o ar acinzentado. Podia dizer que a culpa é do tempo mas não é só... 
O fumo do cigarro dispersa-se ao sair da minha boca e irrita-me os olhos. Sinto o vazio que inunda cada um dos espaços que me rodeiam. 
O tempo parece que parou. Não consigo pensar porque pensar implica alguma actividade e a única coisa que realmente quero é dormir. Dormir e viver realidades que não esta. Sonhar com mundos paralelos onde faço o que realmente quero.
Apago. Apago o que fisicamente posso e o que psicologicamente me apetece.
Tudo parece estanho. Tudo está ausente da minha vida.
Quietude. Silêncio. 
Uma paz que não desejo...